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PARA LUCROS NA PECUÁRIA

A melhor de 30.000 vacas está vazia, e agora José?

Entre os selecionadores é muito comum a supervalorização das vacas mães dos tais “touros de Central”, aqueles que por diversos e variados atributos têm o seu sêmen coletado e comercializado. Quanto maior for a quantidade de “touros de Central” que essa vaca produzir, e quanto mais sêmen os seus filhos venderem, maior é o valor atribuído pelos selecionadores à tal vaca. É inegável que tal vaca seja realmente valiosa, principalmente do ponto de vista financeiro.

 

Mas, e sob a ótica produtiva de um rebanho de cria, qual o seu real valor? Será que estes “touros de Central” são realmente filhos das melhores vacas?

 

Partindo deste ponto quais são as características e qualidades que uma vaca deve apresentar para ser considerada uma vaca excelente? Por quê essa vaca mereceria ter sua genética disseminada, via produção machos “touros de Central” ou multiplicada via transferência de embriões (TE) ou fertilização in vitro (FIV)?

 

Para um rebanho de cria é consenso que a característica mais importante é a fertilidade, portanto a primeira prova que uma fêmea deve passar é a da prenhez. Uma fêmea prenhe é boa e uma vazia é ruim. E quanto mais jovem ela emprenhar, maior é a sua qualidade pois uma fêmea só começa a dar retorno financeiro para a fazenda de cria a partir da sua terceira parição. Até o segundo bezerro que ela desmamar, os custos para ela ser produzida, recriada e mantida no rebanho são maiores que os valores acumulados com a venda de seus filhos. Só a partir do terceiro bezerro é que o dinheiro investido é retornado. Isso se ela emprenhar aos 24 meses, tiver um intervalo de partos de 12 meses e não considerarmos o custo do capital investido. São 5 anos e 8 meses até ela se pagar.

 

Tabela 1.
Tempo para a fêmea que emprenha aos 24 meses se pagar no rebanho de cria.

 

É por isso que podemos afirmar que se conseguirmos antecipar a prenhez para os 14 meses conseguimos diminuir em um ano o tempo para que a fêmea se pague dentro de um rebanho de cria.

 

Assim, a vaca boa do ponto de vista da fertilidade é aquela que emprenha aos 14 meses e desmama pelo menos 3 bezerros de boa qualidade. Essas realmente são boas pois, somente 28 entre cada 100 bezerras desmamadas, irão produzir os 3 bezerros até os 4 anos e 8 meses.

 

Tabela 2.
Taxa de Permanência do rebanho de fêmeas que emprenham aos 14 meses.

 

Bem, agora que definimos onde procurar as melhores vacas podemos identificar as vacas que merecem ser mães de “touros de Central”  considerando outras características como peso ao nascimento, habilidade materna, peso de desmama dos filhos, ganho de peso após desmama dos filhos, perímetro escrotal dos filhos, qualidade de carcaça, qualidade de carne, eficiência alimentar, etc.

 

Geralmente essas fêmeas só apresentarão o que podemos chamar de “consistência genética” se os índices médios de fertilidade do rebanho onde elas se encontram forem realmente bons e recorrentes. É o caso da “vacada” da Fazenda Capivara de Piacatu – SP. Vejam os índices de prenhez deste rebanho que participa do Programa Qualitas de Melhoramento Genético desde 1994 e que a partir de 2015 começou a emprenhar bezerras aos 14 meses.

 

Tabela 3.
Histórico de prenhez de 2008 a 2018 da Fazenda Capivara, Piacatu – SP.

É um rebanho que consistentemente apresentou 90% de prenhez, independente de anos bons ou ruins de chuva. Anos ruins geralmente são a grande desculpa dos pecuaristas para os baixos índices de fertilidade em seus rebanhos.

 

Foi no rebanho da Fazenda Capivara que identificamos, pela avaliação genética do Qualitas de abril de 2018, a vaca com o maior Índice Qualitas entre cerca de 30 mil vacas.

 

A vaca M 90113, nascida em 2014 com apenas 31kg, desmamou com 275,5kg (sem creep-feeding), pesou 387,6kg aos 15 meses, emprenhou aos 14 meses, desmamou sua primeira bezerra com 209,1kg, que por sua vez também emprenhou aos 14 meses, e desmamou o segundo bezerro em 2018 com 260kg, apresentou as seguintes DEPs (Diferença Esperada de Progêne):

 

Tabela 4.
Vaca M 90113.

 

Só que… ela ficou vazia na sua terceira estação de monta! E agora José? Coincidentemente, o gerente da Fazenda Capivara se chama José Henrique, a quem parabenizamos junto com toda a sua equipe pelos excelentes resultados produtivos do rebanho.

 

Mas, voltando à pergunta: e agora José?

 

Mesmo sabendo que a M 90113 era a vaca mais bem avaliada de 30.000 ele não teve dúvidas, e embarcou-a para o frigorífico com as outras vacas vazias. Ainda me disse que ela era realmente boa, pois foi embarcada logo após ter seu bezerro de 260Kg desmamado. – “Desmamou gorda, Leo”.

 

Me contou ainda que recebeu uma visita de outros selecionadores que ao ouvirem que ele havia enviado a “melhor vaca” do Qualitas para abate, recebeu a seguinte crítica: “vocês são muito radicais”.

 

Será que isso é radicalismo ou realmente fazer seleção?

 

Por isso, novamente parabéns José Henrique, Toti e Daniel, que são as pessoas que decidem na Faz. Capivara, por fazerem o que consideramos o correto.

 

O interessante é que nesse mesmo rebanho tem outra vaca que nasceu no mesmo ano, que é a M 80186 com 30kg, desmamou com 285,2kg (sem creep-feeding), pesou 333,3kg aos 15 meses, emprenhou aos 14 meses, desmamou seu primeiro bezerro com 260,8kg, desmamou o segundo bezerro em 2018 com 257,1kg e que apresentou as seguintes DEPs:

 

Tabela 5.
Vaca M 80186.

Só que… essa ficou prenhe e entregará o seu terceiro bezerro, pagando a sua conta na fazenda. Ela não é a número 1 no Índice Qualitas, é a 24a., mas, do ponto de vista produtivo, para mim, a melhor fêmea do rebanho.

 

E você, já identificou a sua “MELHOR VACA”?

 

Grande abraço e inté!

 

Texto com coautoria de Émerson G. de Moraes (sócio diretor da Qualitas).

Autor

Leonardo Souza
Leonardo Souza
Médico Veterinário pela Universidade Federal de Goiás, especialista em Pecuária de Corte pelo Rehagro, sócio-diretor da Qualitas Melhoramento Genético, com 21 anos de atuação nas áreas de gestão, produção e melhoramento genético. O Programa Qualitas de Melhoramento Genético conta com mais de 40 fazendas, nos estados de GO, TO, RO, SP, PR, MG e MT e também na Bolívia, totalizando um rebanho de mais de 250.000 cabeças.

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