E desde então o ser humano segue o mesmo modelo para fazer seleção:
1o. – Identificar os animais que são os melhores. Ou seja, as exceções;
2o. – Multiplicar através da reprodução as exceções;
Para que as exceções se tornem a média do rebanho.
Apesar do modelo ser simples, praticar a seleção é extremamente difícil, uma vez que, a principal questão a ser respondida é complexa: Como é, ou como deve ser o melhor animal?
E para complicar sabemos que, em um país continental e que apresenta diferentes sistemas de produção é pouco provável que um único modelo de melhor bovino atenda a todas as realidades brasileiras.
Mas, sabendo disso, quando aplicamos o problema para a realidade de uma única fazenda, o melhor bovino é aquele que trará os melhores resultados produtivos e financeiros naquele sistema de produção. Assim, para definir o que é o melhor animal é preciso antes, definir onde e como ele será criado. Tarefa difícil em um país onde a exploração pecuária é recente. Singular pela produção em pastagens, em sua grande maioria tropicais, mas principalmente exóticas (foram trazidas de outros continentes). E que por isso, sofrem para se adaptarem e permanecerem perenes, por conta dos desafios climáticos, de competição com outras plantas, de insetos “pragas” e da fertilidade dos solos.
Ou seja, o próprio sistema de produção está sujeito a mudanças, seja por fatores não controláveis pelo pecuarista, mas principalmente por vontade própria, visando acompanhar a evolução tecnológica, ajustar o sistema a mudanças na própria cadeia da carne ou mesmo copiar ou fazer totalmente o contrário do que o vizinho está fazendo!
Para sintetizar, o melhor bovino hoje pode não ser o melhor para o sistema de produção de amanhã. Principalmente, se o pecuarista não seguir uma linha de trabalho. Por isso é preciso planejamento e persistência para se fazer seleção. E esse é o primeiro motivo que confirma que selecionar bovinos de corte no Brasil é um desafio sem fim.
O segundo motivo é que, mesmo definindo e adotando um único e imutável sistema de produção, nunca conseguiremos identificar o bovino perfeito. Por que a quantidade de características ideais que este animal deve apresentar é muito grande: ser adaptado ao ambiente, ter resistência a ecto e endoparasitas, nascer pequeno (leve), desmamar pesado, ganhar muito peso após a desmama, ser precoce sexualmente, produzir um bezerro por ano, apresentar grande quantidade de carne, ser dócil, comer pouco e ganhar muito peso, ter carne macia e saborosa, ter a aparência que agrada ao dono, e por aí vai.
E para complicar, parte destas características apresentam correlações antagônicas. Isso quer dizer que se a regra é: se uma vaca produz muito leite, ela será mais exigente em nutrição e por isso não conseguirá ficar prenhe logo após o parto, pois toda a sua energia estará direcionada para a produção de leite e não para a reprodução. Mas queremos que a vaca produza um bezerro pesado por ano. Outro exemplo é que bovinos com muita “musculatura” apresentam menor fertilidade. Ou seja, o ser humano quer que o bovino tenha as duas características, mas uma “atrapalha” a outra. Mas existem exceções às regras. E é por isso que dizemos que o desafio do selecionador é identificar as exceções.
O terceiro motivo é que, mesmo identificando hoje o bovino ideal, ainda sim, seria possível encontrar um animal ainda melhor amanhã. Desde que seja mantida a variabilidade genética no rebanho, pois é isso que torna possível que os filhos sejam melhores que os pais por gerações e gerações, de maneira infinita.
E são por todos esses motivos que a própria pecuária apresenta um desafio sem fim, que a torna tão apaixonante e capaz de consumir a vida de gerações de famílias que se dedicam sempre a buscar o melhor para os seus rebanhos.
Por isso, o pecuarista é antes de tudo, um selecionador.
Leonardo Souza
Médico Veterinário pela Universidade Federal de Goiás, especialista em Pecuária de Corte pelo Rehagro, sócio-diretor da Qualitas Melhoramento Genético, com 21 anos de atuação nas áreas de gestão, produção e melhoramento genético. O Programa Qualitas de Melhoramento Genético conta com mais de 40 fazendas, nos estados de GO, TO, RO, SP, PR, MG e MT e também na Bolívia, totalizando um rebanho de mais de 250.000 cabeças.
Fonte: Scot Consultoria
Autor
- Médico Veterinário pela Universidade Federal de Goiás, especialista em Pecuária de Corte pelo Rehagro, sócio-diretor da Qualitas Melhoramento Genético, com 21 anos de atuação nas áreas de gestão, produção e melhoramento genético. O Programa Qualitas de Melhoramento Genético conta com mais de 40 fazendas, nos estados de GO, TO, RO, SP, PR, MG e MT e também na Bolívia, totalizando um rebanho de mais de 250.000 cabeças.
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