OPORTUNIDADE ÚNICA
PARA LUCROS NA PECUÁRIA

Ferramentas para seleção de bovinos de corte

*Danie Bosman e Leonardo F. N. Souza
Danie Bosman é Zootecnista, mestre em produção animal pela Universidade de Pretório e atualmente atua como consultor em melhoramento genético. Leonardo F. N. Souza é veterinário formado na UFGO e sócio do Núcleo de Zootecnia responsável técnico pelo programa Qualitas . leo@nz.agr.br , 17-235.4886

Partindo desse pressuposto quando o homem decide ser um selecionador de bovinos de corte o primeiro passo é definir quais os objetivos que ele quer para seu rebanho.

No processo de definição do objetivo de seleção é importante que o selecionador conheça e verifique alguns fatores. Um dos pilares do melhoramento genético e da seleção é saber se existe na população variação na(s) característica(s) a ser(em) selecionada(s). Um selecionador “ainda” não pode criar novos genes mas pode aumentar a quantidade de determinados genes na população ou rebanho.

Tabela 1: Ganho médio diário e Conversão alimentar de animais submetidos a Teste de Performance na África do Sul.

Ganho médio diário (gramas)

Conversão Alimentar

5% melhores

1.815

6,00

Média da raça

1.520

6,95

5% piores

1.137

8,75

Outro fato que o criador deve verificar é a herdabilidade da característica selecionada. Ou seja, quanto da variação verificada para aquela característica é devida a fatores genéticos e não a diferenças no ambiente em que os animais são criados.

Tabela 2: Características que apresentam herdabilidade favorável e portanto respondem a seleção:

Característica

herdabilidade h2(%)

Peso à desmama

30

Crescimento em pastejo

30

Crescimento em confinamento

55

Altura

47

Perímetro escrotal

55

Outro aspecto muito importante e que o criador deve estar atento é que animais visualmente parecidos podem apresentar diferenças de produtividade. Isto quer dizer que não é possível medir visualmente com precisão o desempenho de um animal.

Um fato também muito interessante é que a produção de leite das vacas é uma característica de alta repetibilidade. Isto significa que se uma vaca não produzir leite suficiente para criar bem o seu primeiro bezerro ela não o fará no segundo, no terceiro e assim por diante. Ou seja, não adianta esperar melhora na habilidade materna de uma vaca se ela desmamar um bezerro fraco em sua primeira parição.

Conhecendo e entendendo estes fatos e traçado o objetivo, na prática o que acontece é o melhoramento das características selecionadas.

Tabela 3: Evolução do peso a desmama dos animais ao longo dos anos.

Ano

Peso à desmama (kg)

1980

193

1985

198

1990

211

1995

213

2000

217

24 kg após 20 anos

Discutiremos agora sobre quatro ferramentas básicas utilizadas na seleção de bovinos de corte:

1.Seleção baseada em Pedigrees;

2.Seleção baseada na Aparência Visual;

3.Seleção baseada em resultados de Testes de Desempenho;

4.Seleção baseada em Valores Genéticos (DEPs – Diferenças Esperadas na Progênie).

Seleção baseada em Informações de Pedigree

Porque os selecionadores não podem ignorar os Pedigrees? Porque é por meio deles que se evita a prática de endogamia nos acasalamentos e o por conseguinte o aumento da consaguinidade do rebanho. Está comprovado que o aumento da consaguinidade tem um efeito muito negativo na produtividade do rebanho. Tanto características de crescimento (ganho de peso) como reprodutivas (perímetro escrotal) apresentam correlação negativa com o nível de endogamia.

Seleção baseada na Aparência Visual

Podemos dividir a avaliação visual de bovinos de corte em quatro categorias de acordo com o seu propósito:

Avaliação visual em termos de padrões raciais;

Avaliação visual em termos de padrões para exposições;

Avaliação visual em termos de conformação frigorífica;

Avaliação visual de acordo com normas de eficiência funcional.

A avaliação visual dirigida para padrões raciais e exposições geralmente não estão correlacionadas com produtividade e funcionalidade. Os padrões raciais são necessários para diferenciar os valores dos animais, já os padrões para exposições apresentam pouco valor. Felizmente, na África do Sul, os padrões de exposições foram substituídos pela avaliação visual para eficiência funcional.

A avaliação de bovinos para eficiência funcional foi desenvolvida pelo Professor Jan C. Bonsma da África do Sul em 1946. Partiu do conceito do julgamento de bovinos baseado em misteriosos padrões estéticos para ser estudado cientificamente. Em vez de efetuar a avaliação visual com base no que é esteticamente agradável ao juiz, que tinha muito pouco conhecimento sobre fisiologia, endocrinologia e as interações entre estas funções e a morfologia do animal, uma orientação científica foi desenvolvida.

Durante o período de 1937 a 1960 o Professor Bonsma mediu cerca de 500 animais dos centros de pesquisas estatais de Mara e Messina. Foram medidas 14 características em cada animal de 3 em 3 meses a partir dos 3 dias de idade até a morte ou saída do animal da fazenda. Além disso, todos os animais foram pesados mensalmente e os dados completos de performance de cada animal foram registrados.

Como todas as medidas corporais foram compiladas na mesma planilha dos dados de performance, depois de alguns anos, foi possível correlacionar a morfologia externa com os processos fisiológicos que ocorriam internamente no animal.

Como resultado destas correlações foi desenvolvido um profundo estudo sobre fisiologia de produção e endocrinologia.

A disponibilidade de dados de performance e o contato contínuo com os animais quando eram verificadas as medidas corporais resultaram em uma observação minuciosa dos animais no curral. “Você sentia, cheirava e julgava o temperamento do animal de perto”.

Após medir e compilar os dados de performance referente a pesos, reprodução, produção de leite, reações ao clima e contagem de carrapatos, ficou óbvio que havia uma estreita correlação entre a fisiologia e a endocrinologia do animal e a sua conformação corporal.

A avaliação visual para eficiência funcional é importante pelas seguintes razões:

Atenção é dada a características correlacionadas a produção.

Adaptabilidade a um ambiente específico é avaliada particularmente quando os animais são inspecionados nas fazendas dos criadores.

Ela verifica resultado de testes de performance e avaliações genéticas. Os animais podem ter boa performance mas apresentarem defeitos funcionais. Estes animais devem ser descartados apesar da performance ser boa.

Deve ser seguida de uma avaliação mais acurada do animal. Por exemplo, a reprodução é avaliada após os animais entrarem no rebanho. A eficiência funcional avalia a reprodução antes que os animais entrem nos rebanhos de cria.

Ela pode ser subdividida em:

Sistemas – sistemas hormonais e nervosos – principalmente ligados à reprodução; Componentes – conformação, pelagem, pigmentação, couro, cascos, etc.

O criador deve aprender a gostar da aparência dos animais mais produtivos e eficientes e não o contrário. O animal pela sua conformação exprime a sua fisiologia (como seu organismo está funcionando).

Sistemas Reprodução

A reprodução é a característica mais importante do ponto de vista econômico. Se um bezerro não nasce vivo todas as outras características têm interesse apenas acadêmico.

A vaca

Certas categorias de sub-fertilidade, em que problemas ou distúrbios de balanço hormonal são a causa, estão presentes na maioria dos rebanhos. Aproximadamente 10% das novilhas que nascem apresentarão baixa fertilidade. A seleção para características reprodutivas é portanto de extrema importância.

A vaca que apresenta balanço hormonal normal é extremamente feminina. Seu peito é pequeno e é contornado pela barbela e apresenta ampla capacidade ruminal e pêlos sedosos. O perfil de seu corpo é em formato de “cunha”, o que significa que a região dos membros anteriores é descarnada e feminina com genitália e úbere bem desenvolvidos. Ela perde pêlos imediatamente após ficar prenhe e permanece com pêlos finos e sedosos por toda a lactação.

 

Os pêlos de uma fêmea sub-fértil são grossos e escuros principalmente da metade do dorso à região superior à cabeça. Fêmeas sub-férteis são mais profundas na região anterior e o músculo do peito é grande. Apresentam também músculos desenvolvidos no pescoço e na face. A mandíbula é mais pesada com mais músculo e gordura na paleta, costelas e no peito. A barbela que recobre o peito desaparece.

Nas Figuras 1 e 2 as diferenças entre o formato de uma vacas de alta fertilidade e o de vacas sub- férteis está evidente.

Figuras 1 e 2: Diferenças relativas entre a conformação corporal de vacas sub-férteis e férteis.

O perfil corporal é muito importante na avaliação visual de fêmeas. Vacas que produzem bezerros regularmente apresentam formato de “cunha”. Com membros anteriores menos musculosos e o peito está mais próximo do solo quando comparado a uma vaca sub-fértil.

A vaca sub-fértil desenvolve acúmulos de gordura específicos em seu corpo, o primeiro local é abaixo dos olhos. Em seguida, no peito, que fica cheio e a barbela desaparece. Ela desenvolve um “cupim de búfalo” no pescoço ou uma bola de gordura na parte superior das paletas.

Freqüentemente grande quantidade de carne e gordura se encontra sobre as paletas. Um acúmulo de gordura de forma oval se desenvolve na região baixa das costelas e uma grande bola de gordura é acumulada nos íleos. Esta gordura é muito sólida e se torna tão dura como cartilagem quando o animal emagrece. É como um duro pedaço de cartilagem que não irá desaparecer. Quando isto ocorre é quase impossível emprenhar esta vaca.

Gordura também é acumulada nos ísquios e cerca de 15 cm abaixo da vulva e também na barriga na região anterior ao úbere, e são característicos de vacas sub-férteis e estéreis.

Abortos deixam marcas definitivas no corpo do animal. A fêmea que abortou apresenta pequenos caroços de gordura no peito, que não são macios, e as tetas indicam que o úbere se desenvolveu até certo ponto e depois retrocedeu, ela não apresenta o mesmo formato de úbere que uma novilha. A vaca que perde o bezerro antes que ele tenha mamado ou tenha abortado irá desenvolver uma marca branca parecida com porcelana nos chifres e os pêlos do úbere irão crescer em abundância.

Se um animal é superalimentado, um distúrbio no balanço de somatotropinas (hormônios de crescimento) e gonadotropinas (hormônios sexuais) é desencadeado e a fertilidade irá diminuir.

A vulva de uma vaca é outro bom indicativo de fertilidade. Se a vulva de uma novilha é muito grande, com as extremidades desenvolvidas para baixo e para fora, isto indica um distúrbio no balanço dos hormônios sexuais femininos. Significa também que o seu clitóris é muito grande. Estas fêmeas freqüentemente apresentam cios irregulares.

Épossível selecionar novilhas para eficiência funcional antes que elas sejam colocadas com o touro. A novilha fértil é feminina, e tem uma vulva desenvolvida que apresenta de 4 a 6 cm da comissura superior até a comissura inferior e um úbere bem desenvolvido.

A novilha sub-fértil com freqüência é muito grande, tem aparência masculina, tem uma cabeça masculina e vulva e úbere infantis. Ela apresenta pêlos grossos e opacos nas costas, é mais profunda na região anterior do corpo, e apresenta um peito desenvolvido para frente e para baixo e apresenta cios irregulares.

Numa vaca que tem partos regulares, os chifres usualmente ficam mais cinza e não apresentam manchas duras e lisas. A vaca que produz regularmente tem cabeça e pescoço descarnados. A barbela está bem definida sobre o peito e a ponta da escápula é mais alta que os processos espinhosos das vértebras torácicas. Apresenta grande capacidade ruminal e um úbere bem desenvolvido e funcionalmente eficiente. Possui tetos pequenos, lisos e brilhantes. A cauda desce perpendicular ao corpo.

A partir do momento que a vaca fica com o peito e ombros pesados, certamente ela está tendo partos irregulares e é uma fraca produtora de leite.

Pela seleção de vacas e novilhas de alta fertilidade, a potência do touro é poupada e a produção de bezerros aumentada.

O touro

O touro é um touro porque os seus testículos estão intactos e as características sexuais secundárias estão presentes. Um touro deve parecer um touro, não uma vaca ou um boi castrado. Os hormônios sexuais masculinos têm uma influência direta na aparência física do touro – são responsáveis pela cabeça e aparência masculina do touro. Masculinidade significa musculosidade e geralmente pêlos grossos na cabeça pescoço. Apresenta também pêlos mais escuros na cabeça, pescoço, região baixa das costelas e dos membros posteriores principalmente em animais de pelagem vermelha. O resto do corpo apresenta pelagem fina e sedosa. Touros com estas características geralmente apresentam alta libido. Qualquer distúrbio no balanço hormonal ou falta de testosterona causará falta de masculinidade na cabeça, pouca musculosidade, pelagem de coloração opaca e por sua vez falta de libido (Figuras 3 e 4).

Figuras 3 e 4: Diferenças de conformação entre um touro funcionalmente eficiente e um ineficiente.

Os hormônios também determinam o crescimento ósseo. Quando o animal alcança a puberdade ou maturidade sexual, os ossos param de crescer e começam a endurecer. Isto ocorre porque na puberdade a secreção de testosterona aumenta e a dos hormônios de crescimento diminuem. Animais que não alcançam a maturidade sexual, ou quando ela é retardada, continuam a crescer. Como resultado o animal fica mais alto e suas medidas são desproporcionais. Todo macho castrado antes dos 6 meses de idade irá apresentar uma mandíbula pesada, porque este osso apresenta cartilagem e continua a crescer. Continua crescendo até o fim da vida do animal. Da mesma forma os chifres deste animal continuarão crescendo. O crescimento dos chifres de um touro é muito mais lento que o de um macho castrado.

Os hormônios sexuais masculinos afetam diretamente o desenvolvimento e o formato dos músculos. O touro desenvolve musculatura – e se ele é realmente um touro – não acumula gordura.

Um touro dever possuir músculos desenvolvidos no pescoço, na região superior dos membros anteriores e os músculos dos posteriores devem ser desenvolvidos.

Os órgãos sexuais externos: testículos, bolsa escrotal, bainha prepucial e o pênis são extremamente importantes na avaliação do potencial sexual do touro.

A bolsa escrotal é um delicado mecanismo termo-regulador. Ela deve manter os testículos refrigerados quando está quente e aquecidos quando está frio. A natureza requer que os espermatozóides sejam formados a uma temperatura de 5 a 7oC abaixo da temperatura corporal. Durante o período frio os testículos são aproximados da parede abdominal para que o calor seja retido. No clima quente a bolsa escrotal deve estar relaxada, e os testículos a cerca de 10 cm da parede do abdômen, entretanto não devem estar muito pendulosos para não serem machucados. Além disso, testículos pendulosos podem causar uma varise obstruindo as veias espermáticas, comprometendo todo o mecanismo termo-regulador causando a esterilidade do touro.

A bolsa escrotal ideal apresenta a região mais próxima ao abdômen sem acúmulo de gordura, pois pode interferir no mecanismo termo-regulador. Deve ser bem pigmentada. A despigmentação pode levar a inflamação da bolsa escrotal e comprometer a eficiência reprodutiva do touro.

Os testículos devem ser apresentar bom tamanho (30 a 40 cm – em animais de 2 anos), bom formato e devem estar bem posicionados na bolsa escrotal, nunca virados para a direita e nem para a esquerda. Os epidídimos devem estar bem visíveis e bem posicionados (Figura 5). Em um estudo de Van Rooyen (1985), 86% dos testículos apresentaram um desvio para esquerda com 37% dos touros apresentando um desvio menor que 10% o que não podia ser detectado visualmente. Qualquer desvio da normalidade resulta em um grande percentual de deformidades na progênie (Figuras 6 e 7).

Figura 5: Testículo Funcional.

Figuras 6 e 7: Testículos torcidos e agarrados.

Hipoplasia unilateral ou bilateral é um defeito genético que pode causar sérios problemas reprodutivos. O desenvolvimento das tetas que estão próximas à bolsa escrotal é devido ao estrógeno, que é um

hormônio feminino. Touros com esta característica geralmente apresentam baixa libido.

A bainha prepucial de animais Bos Indicus, é freqüentemente um problema. Bainhas que são muito compridas e pesadas tendem a apresentar prolapso de prepúcio que leva a machucados, e eventuais inflamações (“umbigueiras”) eliminam estes touros de serviços futuros. Diferenças dentro das raças indicam que o comprimento e o formato da bainha são hereditários e que a seleção para bainhas menores e mais curtas é possível.

Entretanto, cuidado deve ser tomado para não selecionar touros com bainha colada ao abdômen e menor superfície total de pele (pele agarrada ao corpo). Em condições tropicais onde a temperatura pode ultrapassar 40oC, é muito importante para fins de termo-regulação uma maior superfície de pele relativa ao tamanho do corpo do animal. A seleção deve ser de animais com bainha aceitável mas com pele sobrando para aumentar a superfície total de pele.

Guia para a avaliação visual de touros

Aqui estão alguns pontos relevantes para a avaliação de touros:

Um touro deve apresentar forte aparência masculina.

Musculatura desenvolvida, forte e evidente – um touro deve ser musculoso; não intensamente coberto de gordura. A cobertura homogênea de gordura por todo o corpo não é característica de touro de alta fertilidade.

Um touro deve apresentar pêlos escuros nos membros anteriores. Nenhum touro – se ele for um touro – apresenta coloração de pelagem uniforme por todo o corpo.

Procure por uma cabeça masculina com músculos bem definidos no pescoço e nos ombros.

Costelas bem arqueadas e linha de dorso forte – o touro de baixa fertilidade parece profundo, mas não apresenta arqueamento de costelas, quando visto por trás.

Procure por órgãos reprodutivos bem formados e de tamanho apropriado. Anormalidades nos órgãos reprodutivos são hereditárias, portanto, preste atenção. Um touro fértil apresenta pêlos compridos no prepúcio e apresenta pêlos curtos na bolsa escrotal.

Um touro necessita de pernas fortes e musculosas e quartelas fortes. Não admita aprumos posteriores retos (pernas de frango).

Boa proporção corporal. Cabeça excessivamente grande ou corpo muito compacto pode causar problemas de parto ou nanismo.

Componentes:

Existem vários defeitos genéticos indesejáveis que podem aparecer nos bovinos. Eles causam desde de baixa performance e comprometimentos funcionais a situações semi-letais e letais. A maioria é causada por influências genéticas, ambientais ou devido a interações genéticas e ambientais.

Dividiremos este assunto em:

Estrutura e conformação

Adaptabilidade Estrutura e conformação:

Para um bovino ter um bom desempenho produtivo toda a sua estrutura física deverá ser bem conformada e apropriada ao ambiente em que ele será criado. Neste aspecto, cascos, aprumos, conformação de garupa e comportamento devem ser verificados.

Na África do Sul alguns animais quando submetidos a alimentação rica em grãos, principalmente milho, ou criados em solos arenosos ou em pastagens artificiais (gramíneas exóticas ou não nativas) podem desenvolver “laminite”. Isto é mais comum em animais Bos indicus (Brahman, Nelore, Guzerá) e em Bos taurus africanus (Afrikaner, Bonsmara, Drakensberger, Nguni). A laminite apresenta herdabilidade alta e pode ser eliminada pela seleção. O casqueamento de animais preparados para exposição é portanto um mecanismo que atrapalha a identificação dos animais portadores deste defeito genético e o descarte dos mesmos.

Os aprumos são importantes assim como os cascos pois a locomoção e a reprodução, principalmente, dos machos depende de aprumos corretos. Animais de aprumos traseiros muito retos, também chamados de “pernas de frango” podem provocar nas fêmeas distocias (o bezerro não consegue sair do útero) pois a angulação da garupa fica comprometida e nos machos pode provocar a quebra do osso do pênis no momento da cópula. O salto se torna mais difícil e o impulso que touro tem que exercer é maior.

Em fêmeas é interessante que a garupa seja levemente inclinada. Isto facilita o parto pois o bezerro desliza pela cavidade púbica. As raças indianas (Nelore, Brahman, Guzerá), as Bos taurus africanus (Afrikaner, Bonsmara, Drakensberger, Nguni) e a Jersey apresentam menos problemas de parto pois a garupa nestas raça geralmente é levemente inclinada.

Animais de temperamento dócil são mais fáceis de manejar e diminuem o risco de acidentes tanto com os animais como com as pessoas que trabalham com eles. O temperamento é uma característica de alta herdabilidade (0,45) e portanto pode ser selecionada. Vale lembrar que o temperamento também depende de como os animais são manejados, agressões dos funcionários e instalações mal planejadas podem alterar o comportamento dos animais e a real avaliação do temperamento é comprometida.

Adaptabilidade

O ambiente

Todo animal é o produto final da completa interação entre a sua composição genética (genótipo) e o ambiente, que também inclui o ambiente pré-natal ou intrauterino (Figura 8).

A interação genótipo –ambiente

A eficiência de produção depende de seleção, nutrição e manejo

Hereditariedade Ambiente Status Nutricional Tamanho do animal

Adaptação

Morfologia

Função

INFLUÊNCIA GENÉTICA

Genes

Radiação

CATÁLISE AMBIENTAL

Solar

Ambiente Interno

Hormônios

Ambiente Externo

Temperatura

Enzimas

Vento

ENTRADAS

SAÍDAS

Custos de Produção

Receitas de Produção

Tamanho Corporal

Potencial Produtivo

Proteínas

Trato

Ossos

Funções de Crescimento

Vitaminas

Entrada

Digestivo:

METABOLISMO

Gordura

Carboidratos

Rúmen

Músculos

Minerais

de energia

(Ambiente

Energia

Crescimento

Gordura

interno)

Taxa

Reprodução

Produção Leite

Insumos

de

Resíduos de Produção

passagem

Bom Manejo

Fezes e urina

Trocas gasosas

Eficiência de produção

Dissipação de Calor

Ambiente e capacidade de suporte

APETITE

(Disponibilidade alimentar)

Tamanho corporal + função = necessidade nutricional de manutenção + produção

Lucro = Receitas de produção – custos de produção

Figura 8 – O tamanho de um animal depende da nutrição e da idade. Em outras palavras a disponibilidade nutricional do ambiente determina quanto um animal irá crescer.

O ambiente – especialmente se ele é desfavorável – pode constituir um fator altamente limitante para expressão do potencial genético do animal. Um ambiente interno e externo desfavorável pode retardar o desenvolvimento esquelético e, portanto o tamanho adulto do animal. Afeta também o desenvolvimento muscular, o crescimento dos pêlos e a aparência dos mesmos. Ele altera a conformação do corpo e várias características anatômicas que refletem a normalidade do organismo.

Por sua vez, o aspecto mais importante para a produção animal é a criação de animais que são adaptados ao ambiente em que são expostos. O animal adaptado está em equilíbrio térmico com o clima e em harmonia com o ambiente, o que lhe permite a máxima utilização dos recursos naturais, enquanto o animal não adaptado inevitavelmente sofre de desnutrição e finalmente degeneração (Figura 9). Adaptabilidade é claramente a chave para a sobrevivência.

9

Figura 9: Uma vaca Shorthorn com degeneração tropical – o problema de degeneração tropical de raças Européias e Britânicas nos trópicos e sub-trópicos teve de ser solucionado pela pesquisa.

Estudos nos campos da ecologia e climatologia ressaltaram a importância que vários fatores ambientais têm sobre a produção, tanto individualmente como através de interações. Neste sentido o Professor Bosman desenvolveu o que ele chamou de “roda ecológica de criação” (Figura 10).

Linhas elétricas

Nutrição

de alta tensão

Temperatura

Poluição e

Luz (luminosidade)

mau cheiro

Sons supersônicos

Animal

Radiação Solar

e barulho

Manejo

Pluviosidade e

homem

Altitude

umidade relativa

Fertilidade

Pressão Atmosférica

do solo

pH do Solo

Vento

EndoparasitasDoenças

Ectoparasitas

Figura 10: Roda ecológica de criação. As dezesseis variáveis nesta roda têm influencia direta sobre o homem e os animais.

Toda a filosofia da produção animal está baseada no fato que o homem é o eixo desta roda, que o animal é o cubo (centro) e que o ambiente é o aro (superfície) desta roda. O criador deve conhecer cada um destes 16 raios do ambiente de sua região, uma vez que apresentam uma influência direta sobre o homem e o animal. Se estes raios não estão eqüidistantes e não são do mesmo comprimento, a roda não irá girar perfeitamente e, por sua vez, o homem e o animal irão sofrer. Finalmente os lubrificantes que permitirão que esta roda gire com perfeição sobre o eixo são o manejo e a seleção apropriadas.

No caso da pecuária de corte desenvolvida em países de clima tropical algumas características são imprescindíveis para a adaptabilidade dos bovinos ali criados:

pêlos curtos e sedosos. Animais de pelagem clara são sem dúvida os que melhor se adaptam ao calor, entretanto, estes animais devem apresentar pêlos curtos e brilhantes, pois fazem com que os raios solares sejam refletidos e não absorvidos pelo corpo do animal;

couro solto e abundante. O couro (pele) é o maior órgão do bovino e quanto maior for a sua área maior será a superfície do animal em contato com o ambiente e mais eficiente será a troca de calor entre os dois;

couro grosso. Em regiões tropicais a presença de parasitas externos é bem maior do que nas regiões temperadas e frias e quanto maior for a espessura do couro menores serão os danos causados por parasitas externos ao animal. Além disso, animais de couro grosso apresentam um maior número de vasos sanguíneos superficialmente e portanto mecanismo mais eficiente de troca de calor com o ambiente;

pigmentação escura. Animais de pigmentação escura são mais adaptados às condições tropicais. Você já viu algum animal selvagem de hábitos diurnos com pigmentação clara? Mamíferos, aves e répteis que vivem em regiões tropicais e subtropicais apresentam pigmentação escura. Geralmente, animais de pigmentação clara são mais suceptíveis a desenvolver câncer de pele.

Portanto, pigmentação escura (cascos e couro) e pelagem clara, curta e sedosa, couro grosso e solto são as combinações do animal perfeitamente adaptado aos trópicos. Por isso, raças como a Nelore são tão adaptados às condições do Brasil.

Seleção baseada em resultados de Testes de Desempenho

O valor econômico de um bovino de corte ou de um rebanho depende do somatório de várias características. Quando nos propomos a melhorar um rebanho ou simplesmente uma safra de bezerros, o primeiro passo é identificar os componentes dos animais que realmente têm valor e que chamaremos “características”.

Existem várias características que são importantes para o pecuarista de corte. Dentre elas estão: reprodução, sanidade, taxa de crescimento, eficiência alimentar, características raciais e muitas outras. O sucesso em melhorar qualquer uma destas características depende em parte da nossa habilidade em medi-las corretamente.

Como já foi dito anteriormente, animais visualmente parecidos podem apresentar diferenças de produtividade. Isto quer dizer que não é possível medir visualmente com precisão o desempenho de um animal. Por isso, algumas características são medidas subjetivamente e outras objetivamente. O tipo animal ou frame como chamamos, é uma característica em que damos uma nota variando de 1 a 5 para cada animal, classificando os animais em: 1 – muito pequeno, 2 – pequeno, 3 – moderado, 4 – grande e 5 – muito grande. Esta é considerada uma medida subjetiva pois é a opinião de um avaliador. Já uma medida de altura na garupa por exemplo que é verificada com uma régua, utilizou-se um dispositivo para aferir a medida, neste caso consideramos a medida como objetiva.

Ainda dentro do contexto de medir corretamente as características é preciso se atentar para princípios básicos de coleta das informações.

Primeiro, para conseguirmos realmente verificar as diferenças entre os animais é necessário que o ambiente em que são criados seja idêntico, ou seja, todos os animais devem ter as mesmas oportunidades para expressar o seu desempenho.

Segundo, deve-se criar uma sistemática para coleta das informações. Se queremos comparar o peso de desmama de um grupo de bezerros o ideal é padronizar a idade em que deve ser coletada esta informação. Se

definimos que a idade de comparação do peso desmama dos bezerros é 205 dias, deve-se aferir o peso dos animais quando eles estiverem com idade o mais próximo possível dos 205 dias. O ideal seria pesá-los no dia em que completam 205 dias, mas como isso gera uma situação quase que caótica do ponto de vista de manejo nas fazendas, foram criadas fórmulas de ajuste de peso para determinada idade. Entretanto, toda vez que se faz um ajuste carrega-se com essa informação uma margem de erro e quanto maior for a distância da data de coleta da informação da data de ajuste, maior será a possibilidade do valor ajustado não representar o valor real que animal apresentaria para aquela medida na data definida para comparação dos animais. Exemplo: Dois bezerros A e B, um foi pesado com 160 dias de idade e outro com 206 dias de idade, respectivamente. O bezerro A tem uma medida 45 dias antes da data de comparação de 205 dias de idade e o bezerro B apenas 1 dia. A fórmula para ajustar esta medida assume que ganho de peso diário que o animal A teve até os 160 dias de vida será o mesmo até ele alcançar os 205 dias, já o para o animal B a fórmula irá descontar o ganho referente a um dia de vida deste animal pois ele foi pesado um dia depois da data de comparação. Portanto: qual dos 2 pesos ajustados representará com maior precisão o peso dos 2 bezerros aos 205 dias?

Respeitando estes dois princípios teremos o chamado grupo de contemporâneos que nada mais é que um grupo de animais de idade semelhante (que facilita a coleta de dados e diminui a interferências dos ajustes) e submetidos a um mesmo manejo (que garante que a diferença entre os indivíduos teve pouca interferência do ambiente).

Na prática o que o selecionador deve fazer é organizar uma estação de monta para suas vacas a mais curta possível (até 75 dias é o ideal – assim não existem bezerros nascendo na fazenda quando iniciar o seu programa de inseminação artificial), e ver quais as vacas que “emprenham”, que não têm problemas no parto e que entregam os bezerros mais pesados na desmama. Em seguida, é recriar os bezerros nas mesmas condições até o sobreano (15-18 meses) , medir o desempenho de cada um deles e verificar as características de importância econômica. Isto é o verdadeiro teste de desempenho e é o tipo de teste que traz resultados.

A coleta de dados realmente demanda tempo e esforço e se torna uma rotina. O único motivo que faz o selecionador executá-la é para obter algum benefício. E podem acreditar, ela traz benefícios. Cada grupo de informações coletadas no ano e adicionadas ao seu banco de dados irá mostrar uma real fotografia de onde estão os animais superiores em seu rebanho.

A diferença em ter ou não estas informações é a diferença entre saber e supor se um animal, é bom ou ruim. Um selecionador precisa dos dados de desempenho como uma prova de que seus animais são superiores. Estas informações também são a base para a próxima ferramenta de seleção: Valores Genéticos.

Seleção baseada em Valores Genéticos

Como já dissemos os dados de desempenho coletados sobre os animais são utilizados para determinar os Valores Genéticos dos animais e por conseqüência as DEPs – Diferenças Esperadas na Progênie, que nada mais são que a metade do valor genético dos animais. Porque a metade? Porque no momento da fertilização somente metade dos genes de cada progenitor (touro e vaca) são passados para o filho, ou seja, a metade do valor genético de cada ancestral.

A DEP representa exatamente a sua definição. É a previsão da diferença esperada entre a performance média da futura progênie de um indivíduo e a performance de uma animal referência teórico com DEP de valor zero. Por exemplo se um touro apresenta uma DEP de +1,5 kg para peso ao nascimento, isto significa esperar que sua progênie seja em média 1,5 kg mais pesada que a progênie do touro referência com DEP assumida

para peso ao nascimento igual a 0 (zero). Sendo mais preciso, pode-se esperar que o referido touro produza bezerros 2,5 kg mais leves que um touro com DEP +4,0 (4,0 – 1,5 = 2,5) ou 3 kg mais pesados que um touro com DEP de -1,5 (-1,5-(-1,5) = 3,0). Ou seja, as DEPs são designadas somente para comparar animais.

Elas são calculadas através da utilização de procedimentos estatísticos correspondentes a uma categorial geral chamada BLUP (Best Linear Unbiased Prediction) ou Melhor Previsão Linear não Viesada. Estes procedimentos adequam os valores das informações disponíveis sobre um indivíduo e seus parentes, utilizadas nas análises.

A vantagem das DEPs em relação aos resultados de teste de desempenho é que elas permitem a comparação de indivíduos entre rebanhos. Isto ocorre porque as DEPs são calculadas a partir de todas as informações disponíveis dos animais – pedigree, perfomance individual e progênies e os resultados de teste de desempenho não.

Já a qualidade de uma DEP é medida pelo valor de sua acurácia. O valor da acurácia pode variar de 0 a 1, sendo que a unidade 1 significa que a DEP de determinado animal é a medida exata da diferença da progênie deste animal em relação à base genética dos animais avaliados. Uma acurácia zero significa que não existem informações disponíveis para se fazer uma previsão. Os valores entre 0 e 1 medem o grau relativo de confiança que deve ser atribuído às DEPs. Geralmente, se valores forem de 0,8 para cima pode-se considerar que a acurácia é alta, o que significa que as DEPs são previsões bastante confiáveis. Valores entre 0,6 e 0,8 significam que as DEPs têm acurácia moderada, e DEPs com acurácia inferior a 0,6 são previsões com baixa confiabilidade.

Concluindo, as DEPs são as melhores previsões que podem ser feitas sobre o mérito genético dos indivíduos e nada mais são que o desempenho esperado da progênie dos animais avaliados, para as características medidas ou avaliadas consideradas importantes pelos criadores. É também com base nelas que os criadores podem definir os objetivos de seleção de seus rebanhos.

Conclusão

O criador deve ser encorajado a pensar em termos de eficiência total do rebanho, ou seja, quanto de retorno é conseguido com os recursos investidos.

A seleção é a ferramenta mais barata e a única com qual pode-se melhorar a eficiência do rebanho. Geralmente, mudanças no manejo visando aumento do desempenho dos animais estão acompanhadas de aumento dos custos de produção.

Pela seleção é possível modificar geneticamente um rebanho ou uma raça e a correta utilização das ferramentas descritas é o caminho mais rápido para que as mudanças ocorram.

O objetivo é buscar um rebanho eficiente que produza o maior retorno possível. Como dizia o professor Jan Bonsman: “O homem deve medir”.

Referências Bibliográficas:

Bosman, D. J., 1998. Selecting cattle for funcional efficiency. Beef Breeding in South Africa.

Bonsma, J. C. Jan Bonsma and the Bonsmara Beef Cattle Breed. Bonsmara Cattle Breeders Society’s 21stAnniversary Publication.

Bonsma, J. C., 1980. Judging for functional efficiency. ‘Livestock Production – A global approach’. Tafelberg Publishers.

Bonsma, J. C., 1983. The Judging of the Brahman or Zebu Bull. South African Brahman Association Publication, December.

Bonsma, J. C., 1979. Functional efficiency – How to select bulls. ‘Farmers Weekly’, May 30.

Bonsma, J. C., 1979. Functional efficiency – How to select highly fertile cows. ‘Farmers Weekly’, Jun 6.

Bosman, D.J. Textos compilados de Jornais do National Beef Cattle Performance and Progeny Testing Scheeme – ARC, Irene – África do Sul no período de 1972 a 1990.

Comstock, C. R. & Golden B. L. 1995. Measuring the Quality of EPDs: Understanding Accuracies. American Red Angus Magazine, may 1995.

Pollak, E.J., 1992. Expected Progeny Differences Within Breed Comparisons. Proceedings of Symposium on Aplication of Expected Progeny Differences to Livestock Improvement. 84th Meeting – American Society of Animal Science – Pittisburg, Penssylvania. August 9-11.

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Fonte: Scot Consultoria

Autor

Leonardo Souza
Leonardo Souza
Médico Veterinário pela Universidade Federal de Goiás, especialista em Pecuária de Corte pelo Rehagro, sócio-diretor da Qualitas Melhoramento Genético, com 21 anos de atuação nas áreas de gestão, produção e melhoramento genético. O Programa Qualitas de Melhoramento Genético conta com mais de 40 fazendas, nos estados de GO, TO, RO, SP, PR, MG e MT e também na Bolívia, totalizando um rebanho de mais de 250.000 cabeças.

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