E para identificar o melhor touro temos que acompanhar as características que são relevantes na composição da produtividade, dos custos e, por consequência, do lucro do animal.
Nesta nossa prosa iremos apresentar o desenvolvimento de 18 animais da raça Bonsmara pertencentes à Fazenda Santa Silvéria, localizada em Piratininga – SP, de propriedade de Clélia Brissac Pacheco. Esse rebanho é um dos participantes do Programa Qualitas Bonsmara de Melhoramento Genético.
Esses 18 animais nasceram no mês de agosto de 2016 e foram criados juntos nas mesmas condições de pasto e suplementação até os 18 meses e, em seguida, foram confinados no CIGNA (Centro de Inovação em Genética e Nutrição) da UNESP de Botucatu – SP, para avaliação de eficiência alimentar e qualidade de carcaça. No total foram 79 animais nascidos de agosto a novembro de 2016, pertencentes a 6 criadores. Aqui cabe o agradecimento e os parabéns à toda equipe de funcionários e alunos da UNESP de Botucatu e ao Prof. Dr. Josineudson Augusto II, nosso consultor em melhoramento genético e responsável pelo CIGNA.
Na Tabela 1, apresentamos as pesagens ajustadas e os ganhos de peso dos machos nascidos em agosto de 2016 e que estavam com média de 207 Kg aos 7 meses de idade, 347 kg aos 15 meses, 422 kg aos 18 meses e 583 Kg aos 21 meses de idade. Um desempenho excelente, decorrente do alto ganho de peso que esses animais apresentaram tanto na recria (0,585 kg/dia de abril a outubro e 0,742 de novembro a fevereiro), quanto na terminação no confinamento (2,033 Kg/dia durante 77 dias de avaliação).
Em amarelo estão marcados os melhores valores para cada característica. Ex.: o touro 18 apresentou o melhor peso aos 7 meses com 232 kg; o touro 10 apresentou o maior ganho de peso dos 7 aos 15 meses e maior peso aos 15 meses, com 0,704 Kg/dia e 389 kg, respectivamente; o touro 5 apresentou o melhor ganho de peso dos 15 aos 18 meses, como 1,032 Kg/dia; e o touro 15 foi o mais pesado aos 18 meses, apresentou o maior ganho de peso no confinamento, 2,555 Kg/dia e consequentemente o maio peso aos 21 meses, 678 kg.
Tabela 1 – Evolução em ganho de peso dos 7 aos 21 meses de idade.
Na Tabela 2, estão as medidas de carcaça coletadas por ultrassom pela equipe da Design Genes Tecnology. A primeira é AOL (área de olho de lombo) medida em cm2, a segunda é o Marmoreio, medido em scores de 0 a 10, a terceira é a EGS (espessura de gordura subcutânea) medida em mm, e a quarta é EG_Picanha (espessura de gordura na picanha).
É muito interessante verificar que apesar da variação nos animais para as medidas em questão, verificamos valores excelentes para AOL, marmoreio e acabamento, uma vez que estamos falando de machos inteiros e confinados por um curto período, com uma dieta balanceada para não comprometer a qualidade do sêmen dos touros.
Como na tabela anterior as melhores medidas estão marcadas em amarelo.
Tabela 2 – Medidas de carcaça avaliadas por ultrassom.
Na tabela 3, estão as informações coletadas no confinamento. Por meio da tecnologia Intergado, o consumo de alimentos foi pesado diariamente, bem como o ganho de peso que também foi coletado diariamente através de balanças instaladas em uma plataforma em frente aos bebedouros de água dos animais.
Os 18 animais consumiram em média 13,3 Kg/dia de Matéria Seca, ganharam 2,033 Kg/dia de peso, o que resultou em uma conversão alimentar de 6,6 kg de Matéria Seca para cada 1 kg de ganho de peso. Além disso, apresentamos o CAR (Consumo Alimentar Residual) que mostra se o animal comeu mais ou menos do que o que estava previsto em função do ganho de peso que ele apresentou. Animais com valores negativos são os melhores, como foi o caso do animal 17, que apresentou o menor consumo de matéria seca, 11,3 Kg/dia e o CAR mais negativo, consumindo -1,509 Kg/dia de matéria seca para um ganho médio diário de 1,558 Kg/dia, infelizmente o pior desempenho do grupo.
Tabela 3 – Consumo de Matéria Seca, Ganho médio diário, Conversão Alimentar e CAR.
Na tabela 4, temos informações que determinam a produtividade de cada animal em função do rendimento de carcaça estimado por uma fórmula que utiliza o peso vivo, a área de olho de lombo (AOL) e a espessura de gordura subcutânea. Quanto maiores o peso vivo e a AOL e menor a espessura de gordura, maior é o rendimento de carcaça previsto. Com isso temos as arrobas (@) produzidas por cada animal no confinamento, que depende do rendimento e do ganho médio diário. Na quarta coluna temos o custo por @ produzida, que é função da quantidade de alimento consumido durante o confinamento, em que consideramos um custo de R$ 0,55 por Kg de matéria seca durante 77 dias. Esse valor que é o da quinta coluna, é dividido pelas arrobas produzidas, gerando o custo por arroba. Na sexta coluna está o valor da diária no confinamento, que é o consumo médio diário de matéria seca multiplicado pelo custo de R$ 0,55. E na última coluna, temos o lucro por animal no confinamento, onde consideramos um valor de R$ 140,00 por cada arroba vendida. Os valores em amarelo são os melhores para cada item, e aqui identificamos que o animal mais lucrativo, foi o 15, que produziu mais arrobas, 7,82, com o menor custo por arroba, R$ 74,30. O que gerou um lucro de R$ 513,84 no confinamento, contra um lucro quase quatro vezes menor do animal 9 com R$ 145,25!
Tabela 4 – Rendimento de carcaça, arrobas produzidas, custo por arroba no confinamento, custo no confinamento, custo da diária no confinamento e lucro no confinamento de 77 dias.
Na tabela 5, apresentamos os resultados financeiros da engorda dos 18 animais. Na segunda coluna, temos o custo total por animal, que foi calculado da seguinte maneira: foi considerado um custo por bezerro desmamado de R$ 1.000,00 a esse valor foi acrescido um custo mensal dos 7 até os 18 meses de R$ 70,00 por animal, e por último foi acrescido o custo no confinamento de cada animal conforme explicado na Tabela 4. Assim verificamos um custo médio de R$ 2.332,15. Na terceira coluna temos o peso em arrobas de cada boi, com uma média de 23@ aos 21 meses de idade, uma excelente média. E é aí que verificamos uma grande variação, com o pior animal apresentando 19,9 @ e o melhor 27@. Na quarta coluna apresentamos a receita por animal se eles fossem abatidos a um valor de R$ 140,00 por arroba. Na quinta coluna temos o lucro total por boi, com uma média de R$ 886,42 mostrando valores que mostram uma pecuária de alta lucratividade e bastante competitiva com a agricultura.
E o mais importante do ponto de vista da seleção é identificar um touro como o número 15 que apresentou uma lucratividade quase duas vezes mais alta que a média, com R$ 1.423,72 de lucro! Mais interessante ainda é verificar que mais de 60% do lucro total foi alcançado na fase de recria R$ 909,88 contra R$ 513,84 da terminação.
É por isso que reafirmamos que a característica mais importante para a pecuária de corte é o ganho de peso.
Tabela 5 – Custo total, peso de abate em arrobas, receita por boi, lucro por boi, lucro na fase de recria e lucro no confinamento.
Para concluir, são apresentados na tabela 6 os líderes para cada característica medida e como eles se posicionaram para o que realmente importa, que são os lucros: na fase de recria, na terminação no confinamento e durante todo o período até o abate, que é o lucro total. Desta maneira conseguimos visualizar quais características apresentadas pelos animais foram impactantes no lucro.
Mas o mais importante do ponto de vista da seleção foi a identificação do animal número 15, que apresentou excelentes medidas para características extremamente importantes, como ganho de peso após a desmama, ganho espetacular no confinamento de 2,555 Kg/dia, conversão alimentar de 5,4 kg e ainda com um CAR de -1,379 Kg. Além disso, para as características de carcaça, ele esteve acima da média para AOL, espessura de gordura subcutânea e sobre a picanha. Ou seja, um animal de excelente desempenho com alto rendimento de cortes cárneos bem cobertos de gordura.
Tabela 6 – Classificação dos animais para o lucro em função de características avaliadas.
E, além disso, do ponto de vista funcional, é um animal excepcionalmente equilibrado, com o sistema reprodutivo perfeito, com testículos de ótimo tamanho (42 cm aos 21 meses) e formato e cabeça masculina. Umbigo curto, com bainha bem posicionada e sem prolapso de prepúcio. Musculatura abundante. Aprumos, cascos e ossatura corretos. Pêlos curtos e lisos. Ótimo temperamento. Grande comprimento de costelas, com alta capacidade ruminal. Linha de dorso plana. Garupa comprida, larga e levemente inclinada. Essas essas características podem ser vistas na foto abaixo do animal 15, que é o touro CCP16-0166.
Como já dissemos em outro texto, o trabalho do selecionador é identificar as exceções e este touro representa um excelente exemplo do que foi dito.
Mas como está escrito no título, só é possível identificar com precisão a melhor genética quando testamos os animais em condições similares às que eles seriam criados para abate. Finalizar a avaliação no teste de eficiência alimentar, com avaliações de carcaça é uma estratégia que permite simular o resultado financeiro da produção de um boi gordo, mostrando o dinheiro que realmente fica na conta do pecuarista.
E se você está procurando um animal para o seu programa de cruzamento, para vacas nelore e principalmente, para as novilhas ½ sangue Angus/Nelore, a raça Bonsmara é uma ótima opção.
Em nosso próximo texto iremos descrever este sistema de produção apresentando também o seu retorno financeiro potencial.
Grande abraço e inté!
Fonte: scotconsultoria
Autor
- Médico Veterinário pela Universidade Federal de Goiás, especialista em Pecuária de Corte pelo Rehagro, sócio-diretor da Qualitas Melhoramento Genético, com 21 anos de atuação nas áreas de gestão, produção e melhoramento genético. O Programa Qualitas de Melhoramento Genético conta com mais de 40 fazendas, nos estados de GO, TO, RO, SP, PR, MG e MT e também na Bolívia, totalizando um rebanho de mais de 250.000 cabeças.
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