Madeira, gado, soja. Esse tem sido o cardápio de exploração econômica da Amazônia até agora, com perdas significativas de cobertura florestal ao longo das décadas. A retórica de que é preciso derrubar a Amazônia para produzir riqueza, porém, não encontra mais sustentação nos fatos.
“Não há nenhuma necessidade de se aumentar o desmatamento para aumentar a produção agropecuária. Esse argumento é ultrapassado”, diz o pesquisador Eduardo Assad, da Embrapa Informática Agropecuária.
Os 76 milhões de hectares já desmatados, segundo ele, são mais do que suficientes para aumentar a produção de carne e grãos — basta fazer um melhor uso dessas terras.
Assad será um dos palestrantes do próximo USP Talks, dia 25 de outubro, sobre modelos de desenvolvimento para a Amazônia. O evento é aberto, gratuito, e terá transmissão ao vivo pela internet.
O agronegócio costuma ser apontado como o grande vilão da destruição da Amazônia. Isso é justo? Qual é o papel da agricultura e da pecuária entre os vários atores que atuam no desmatamento da Amazônia?
Nos anos 1980, uma rápida visita a Belém do Pará poderia mostrar o tamanho do estrago. Milhares de toras de madeira de lei expostas ao tempo, aguardando para serem exportadas para a Europa e os Estados Unidos. Nesse caso, o vilão do desmatamento era o contrabando de madeira, impulsionado por geopolíticas de ocupação do solo, preço de terra e mercado.
A agricultura, e principalmente a pecuária, vieram a reboque — primeiro a madeira, depois a pecuária, e finalmente o grão. Vários assentamentos e incentivos à produção agropecuária foram criados oficialmente pelos governos. Até a implantação de políticas de comando e controle para a redução do desmatamento em 2007, a agricultura e a pecuária foram, sim, alguns dos principais vetores responsáveis pelo aumento do desmatamento na Amazônia.
Como tornar a agropecuária mais sustentável na Amazônia?
Cerca de 76 milhões de hectares já foram desmatados na Amazônia, considerados com corte raso — uma área equivalente a três vezes o Estado de São Paulo. A proposta de sustentabilidade é intensificar a produção agropecuária nessas áreas já desmatadas. Como? Com sistemas agroflorestais, sistemas integrados lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta, que utilizam uma mesma área para várias culturas.
O impacto desses sistemas na emissão de gases de efeito estufa é muito menor, e você evita a expansão da fronteira agrícola. Se considerarmos as boas práticas agrícolas e as condições mais adaptadas de manejo e conservação dos solos da região amazônica, a possibilidade de termos uma agricultura mais sustentável na região é muito grande.
O retorno econômico que o agronegócio traz para o Brasil justifica abrir novas áreas de floresta para essa atividade? Existe espaço para a agropecuária crescer de forma sustentável na Amazônia, ou o senhor defende uma política de “desmatamento zero”, aproveitando apenas áreas já abertas no passado?
Esses cálculos já foram feitos de maneira exaustiva. Não, não há nenhuma necessidade de se aumentar o desmatamento para aumentar a produção agropecuária. Esse argumento é ultrapassado, fundamentado em especulação imobiliária rural, uma vez que existem tecnologias disponíveis para aumentar a produtividade das culturas e da pecuária sem necessidade de aumento de área.
Um exemplo é o aumento da produtividade da pecuária, com mais cabeças por hectare, e a redução do desmatamento no período 2005-2017. Fica evidente que a pecuária de descolou do desmatamento — ou seja, aumentou a produção de carne, enquanto que o desmatamento caiu. Defendo o melhor aproveitamento das áreas já abertas, por uma agropecuária com intensificação produtiva e sustentável.
Fonte: Estadão, adaptada pela Equipe BeefPoint.
Autor
- Médico Veterinário pela Universidade Federal de Goiás, especialista em Pecuária de Corte pelo Rehagro, sócio-diretor da Qualitas Melhoramento Genético, com 21 anos de atuação nas áreas de gestão, produção e melhoramento genético. O Programa Qualitas de Melhoramento Genético conta com mais de 40 fazendas, nos estados de GO, TO, RO, SP, PR, MG e MT e também na Bolívia, totalizando um rebanho de mais de 250.000 cabeças.
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